Quarto Perdido

Viagem pela história do cinema de género português

O cinema de terror nunca criou raízes em Portugal, em grande parte pela inexistência de condições para a criação industrial de filmes, mas também pela falta de tradição do género na literatura, a grande fonte de adaptações cinematográficas.

Em 2009, na sua 3.ª edição, o MOTELX decidiu criar uma secção que procura exemplos de cinema de terror português. O objectivo da secção Quarto Perdido passa pela pesquisa destes filmes e a sua exibição como exemplos de “terror” nacional, que de outra forma não poderiam ser vistos pelo grande público.

Em 2022, para comemorar mais de uma década de existência, foi lançado o livro "O Quarto Perdido do MOTELX - Os Filmes do Terror Português (1911-2006)" com textos de autores de vários quadrantes.

MOTELX 2023

7-18 Setembro 2023

Tarde Demais (2000) de José Nascimento

MOTELX 2023

Um pequeno barco de pesca naufragado. Quatro homens há longas horas encharcados até aos ossos, sem saberem se alguém os virá salvar. Com Lisboa ao longe, mas ninguém à vista, e em risco de vida, eles não têm outra saída senão tentar chegar à margem por si próprios (mesmo sabendo que as suas hipóteses são muito poucas). Ao longo de 24 horas, por bancos de areia e lodo, arrastando-se pela água e a nado, num dia de Inverno gelado e negro, eles vão lutar pela vida num esforço sobre-humano, entre o desespero e a exaustão. Chegará a ajuda tarde demais? A segunda longa de José Nascimento, depois da estreia em “Reporter X”, é um angustiante (e raro no cinema português) survival film baseado num artigo publicado n’O INDEPENDENTE em 1995, acerca do absurdo naufrágio de um barco de pesca artesanal no meio do rio Tejo. É o primeiro e único filme português que filma o Tejo como um rio de morte.

Serpiente de mar (1985) de Amando de Ossorio

MOTELX 2023

Um avião militar que transporta uma bomba atómica experimental sofre danos mecânicos, e é forçado a despejá-la no oceano para que não caia nas mãos do inimigo. No entanto, a radiação gerada pela explosão irá transformar uma serpente marinha numa criatura gigantesca. Um capitão cujo navio foi destruído pela cobra e um turista americano que perdeu o seu melhor amigo unem-se para destruir o monstro, com a ajuda de um oceanógrafo de renome. Último filme do galego Amando de Ossorio, pai dos “Zombies Templários”, que sofreu um enfarte no decurso das filmagens. Variação de “Jaws” e “Godzilla”, em grande parte filmado ao longo da costa portuguesa, e com sequências em Lisboa, onde vemos Timothy Bottoms (“The Last Picture Show”) e, pela última vez, o actor clássico de Hollywood Ray Milland. Considerado por especialistas um dos “melhores piores filmes” de sempre.

Os Olhos da Alma (1923) de Roger Lion

MOTELX 2023

“Numa comunidade da orla costeira, dois clãs, um pequeno mas influente, formado pelos proprietários dos barcos; outro maior e de baixos recursos de pescadores, cujas traineiras saem incansavelmente para o mar. Sobre uma intriga de ódios, rivalidades e paixões, paira um terrível segredo…”. Foi assim que este filme foi promovido há 100 anos atrás. O seu objectivo era a exaltação da “alma lusa”, apesar do seu realizador ser francês. Roger Lion foi um dos franceses pioneiros do cinema português, juntamente com Maurice Mariaud e Georges Pallu. Há pancadaria, traições, assombrações, moinhos descontrolados e uma dimensão épica ao nível de D.W Griffith ou Victor Sjostrom. Virgínia de Castro e Almeida (produtora/argumentista) é uma das heroínas do nosso cinema, poucas vezes louvada ou mesmo referida. “Os Olhos da Alma” teve acompanhamento musical da artista, Surma, com uma banda sonora original da autoria da mesma.

A Invenção Do Amor (1966) de António Campos

MOTELX 2023

Em “A Invenção do Amor”, de António Campos, um casal é perseguido pela polícia e pelos cidadãos da cidade pelo crime de terem inventado o amor. Inspirado por um poema do mesmo nome do poeta cabo- -verdiano Daniel Filipe, a primeira ficção de Campos, mais conhecido pelo seu trabalho etnográfico, é uma alegoria ao Estado Novo filmada com amigos em Leiria. O filme foi retirado de circulação pelo próprio realizador, que sabia que “A Invenção do Amor” seria censurada. Cópia da Cinemateca Portuguesa digitalizada pelo projeto FILMar/EEAGrants 2020-2024.

A Cama (1975) de Sinde Filipe

MOTELX 2023

No filme de Sinde Filipe, a sua segunda curta após “O Piano” e antes de “O Leproso”, o amor volta a estar no centro da narrativa. Um casal de jovens, na impossibilidade de fazer amor de outro modo, por serem repelidos em diversas circunstâncias (como numa pensão duvidosa), compra uma cama e transporta-a durante quilómetros até uma praia – onde, extenuados, acabam ambos por adormecer.

MOTELX 2022

6-12 Setembro 2022

Coisa Ruim (2006) de Frederico Serra, Tiago Guedes

MOTELX 2022

Xavier Monteiro é investigador e professor universitário, reside com a sua esposa, filhos e um neto ainda bebé num apartamento em Lisboa. Certo dia, recebe a notícia do falecimento de um tio, proprietário de um solar de família numa aldeia do município de Seia. Por ser o único herdeiro legítimo, torna-se dono desse imóvel e decide mudar-se juntamente com os seus para essa casa. Ao chegar à aldeia, percebe que os locais são muito supersticiosos e crentes em assuntos relativos ao oculto. A princípio, Xavier desvaloriza-o, mas, ocorrências estranhas e sem explicação lógica começam a acontecer, correspondendo a algumas crenças locais. O «primeiro filme de terror português» nasce da colaboração entre os realizadores Tiago Guedes e Frederico Serra e o argumentista Rodrigo Guedes de Carvalho.

O Fascínio (2003) de José Fonseca e Costa

MOTELX 2022

Num dia como todos os outros, Lino Paes Rodrigues chega ao seu escritório de empresário imobiliário sabendo já que nada de bom o espera. Porém, quando abre uma carta pessoal, dá conta de que afinal a sua vida pode ter mudado completamente. Um tio-avô, com quem há muitos anos se zangara, acabou de morrer, deixando-lhe como herança uma enorme herdade no Alentejo, junto a Elvas. Mas essa herança inesperada leva-o de volta a um lugar e a um tempo que ele já tinha esquecido, e onde afinal ainda pairam memórias e fantasmas que ele não deveria querer despertar. Trata-se de uma intrigante história sobre uma família, uma casa senhorial e o seu passado macabro, adaptada de um romance com o mesmo título do autor brasileiro Tabajara Ruas, que Fonseca e Costa transpõe para a fronteira ibérica.

O Convento (1995) de Manoel de Oliveira

MOTELX 2022

O professor Michael Padovic e a sua mulher Hélène viajam de Paris até um convento na Serra da Arrábida em busca de documentos essenciais para provar que Shakespeare tinha ascendência espanhola e não britânica. O seu anfitrião é o guardião do convento, uma estranha personagem que dá pelo nome de Baltar. Há qualquer coisa misteriosa em Hélène que cativa Baltar. Para distrair a atenção do marido dela, sugere-lhe que contrate, como sua assistente, Piedade, a nova arquivista do convento. A situação torna-se extremamente bizarra e culmina de forma inesperada. Esta é considerada a segunda incursão de Manoel Oliveira pelo campo do terror depois de “Os Canibais”, de 1988, sendo uma alegoria entre o Bom e o Mau à volta de quatro personagens. Foi nomeado para o Palma de Ouro em Cannes em 1995.

MOTELX 2021

7-13 Setembro 2021

Inferno (1999) de Joaquim Leitão

MOTELX 2021

Uma vez por ano, dez homens que combateram juntos em Moçambique, durante a guerra do Ultramar, reúnem-se num restaurante nos confins do Alentejo, perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Nesse dia, Nunes, o dono, dispensa a cozinheira, fecha o estabelecimento ao público e pendura na parede um estandarte com a insígnia e o lema dos Rangers: UM POR TODOS, TODOS POR UM. Um lema que é também um pacto implícito, que nem todos cumpriram e ainda hoje ensombra as relações entre eles. Mas desta vez, devido à presença de uma prostituta e a uma caçada que acaba em tiroteio, as coisas não correm pelo melhor... Dez actores em estado de excelência, em particular Rogério Samora, Nicolau Breyner e o surpreendente Júlio César, num filme cuja acção dura apenas uma noite, culminando num tiroteio à Peckinpah na fronteira.

20,13 Purgatório (2006) de Joaquim Leitão

MOTELX 2021

Na véspera de Natal de 1969, em plena guerra colonial, uma patrulha regressa ao quartel do exército português em Moçambique e traz um prisioneiro. Esperam uma noite tranquila, dado o costume da trégua em noite e dia de Natal. Mas a mulher do capitão chega de surpresa para passar o Natal e é notório o mal-estar entre os dois. Durante a noite, o prisioneiro e um dos soldados aparecem mortos e o quar- tel começa a ser bombardeado. Até à estreia deste filme, “Non ou a Vã Glória de Mandar”, de Manoel de Oliveira, tinha sido o único filme a ficcionar o combate em África. “20,13 Purgatório” vai mais longe ao incluir um ataque nocturno e uma paixão proibida – o 20,13 refere-se a um versículo da Bíblia que estará na origem de um dos mistérios da história. Destaque para as interpretações do soldado idealista de Marco D’Almeida e do capitão atormentado de Adriano Carvalho.
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