Quarto Perdido

Viagem pela história do cinema de género português

O cinema de terror nunca criou raízes em Portugal, em grande parte pela inexistência de condições para a criação industrial de filmes, mas também pela falta de tradição do género na literatura, a grande fonte de adaptações cinematográficas.

Em 2009, na sua 3.ª Edição, o MOTELX decidiu criar uma secção que procura exemplos de cinema de terror português. O objectivo da secção Quarto Perdido passa pela pesquisa destes filmes e a sua exibição como exemplos de “terror” nacional que de outra forma não poderiam ser vistos pelo grande público.

MOTELX 2021

7-13 Setembro 2021

Inferno (1999) de Joaquim Leitão

MOTELX 2021

Uma vez por ano, dez homens que combateram juntos em Moçambique, durante a guerra do Ultramar, reúnem-se num restaurante nos confins do Alentejo, perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Nesse dia, Nunes, o dono, dispensa a cozinheira, fecha o estabelecimento ao público e pendura na parede um estandarte com a insígnia e o lema dos Rangers: UM POR TODOS, TODOS POR UM. Um lema que é também um pacto implícito, que nem todos cumpriram e ainda hoje ensombra as relações entre eles. Mas desta vez, devido à presença de uma prostituta e a uma caçada que acaba em tiroteio, as coisas não correm pelo melhor... Dez actores em estado de excelência, em particular Rogério Samora, Nicolau Breyner e o surpreendente Júlio César, num filme cuja acção dura apenas uma noite, culminando num tiroteio à Peckinpah na fronteira.

20,13 Purgatório (2006) de Joaquim Leitão

MOTELX 2021

Na véspera de Natal de 1969, em plena guerra colonial, uma patrulha regressa ao quartel do exército português em Moçambique e traz um prisioneiro. Esperam uma noite tranquila, dado o costume da trégua em noite e dia de Natal. Mas a mulher do capitão chega de surpresa para passar o Natal e é notório o mal-estar entre os dois. Durante a noite, o prisioneiro e um dos soldados aparecem mortos e o quar- tel começa a ser bombardeado. Até à estreia deste filme, “Non ou a Vã Glória de Mandar”, de Manoel de Oliveira, tinha sido o único filme a ficcionar o combate em África. “20,13 Purgatório” vai mais longe ao incluir um ataque nocturno e uma paixão proibida – o 20,13 refere-se a um versículo da Bíblia que estará na origem de um dos mistérios da história. Destaque para as interpretações do soldado idealista de Marco D’Almeida e do capitão atormentado de Adriano Carvalho.

MOTELX 2020

7-14 Setembro 2020

Ne Change Rien (2009) de Pedro Costa

MOTELX 2020

“Ne Change Rien” nasceu da amizade entre a actriz Jeanne Balibar, o director de som Philippe Morel e Pedro Costa. Jeanne Balibar, cantora, dos ensaios às gravações, dos concertos rock às provas de canto lírico, de um sótão em Saint Marie-aux-Mines aos palcos de Tóquio, de “Johnny Guitar” a “La Périchole”, de Offenbach. Ao contrário do formato habitual, este filme está mais próximo da ficção de Costa do que do convencional documentário musical, onde Balibar se converte de certa maneira numa personagem do universo do realizador, como Ventura ou Vanda Duarte. Vemo-la passar de ensaio a ensaio, quase condenada à errância num labirinto artístico, através de planos cada vez mais expressionistas. O crítico francês Philippe Azoury foi mais longe, afirmando que este filme «transforma Balibar no Nosferatu da canção».

Cavalo Dinheiro (2014) de Pedro Costa

MOTELX 2020

Enquanto os jovens capitães marcham por Lisboa durante a Revolução de Abril, o povo do bairro das Fontainhas, na Amadora, segue à procura de Ventura, que se perdeu na floresta. Hoje, demolido em nome do progresso, o bairro já não existe. Perdido num país assombrado pela guerra colonial, pela revolução e pela descolonização, Ventura revisita os seus fantasmas pessoais que se vão moldando aos fantasmas de Portugal. O personagem principal de “Juventude em Marcha” regressa no filme mais fantasmagórico de Costa. Ventura deambula pelo limbo das suas memórias e traumas, confrontado por visões espectrais e enigmáticas. Um filme que adiciona Vitalina Varela às personagens dos filmes de Costa, e onde as sombras de Tourneur, 25 anos depois de “O Sangue”, continuam a manifestar-se.
Este website usa Cookies. Ao navegar neste website está a concordar com a nossa Política de Cookies.