Quarto Perdido - Paulo Branco - O Produtor do Terror Português
Com a edição de “O Quarto Perdido do MOTELX - Os Filmes
do Terror Português (1911-2006)”, alguns factores começam a destacar-se de uma leitura conjunta do cinema de
terror português, ou seja, podemos afirmar que, até 2006,
os criadores que mais incidiram sobre este género foram
Manoel de Oliveira, António de Macedo e Solveig Nordlund,
todos com duas entradas no livro. Prosseguindo neste fio de
raciocínio, podemos igualmente aferir que o maior produtor
nacional de filmes de terror é, sem dúvida alguma, Paulo
Branco. Seis filmes da sua produção surgem na lista dos
“filmes do terror português”: “O Território”, de Raúl Ruiz
(mencionado no artigo sobre produções internacionais em
Portugal) e “Os Canibais”, de Oliveira, nos anos 80; novamente o mestre português em “O Convento”, de 1995; e,
no século XXI, o grosso da sua produção de terror abarca
três títulos: “Rasganço”, de Raquel Freire, “O Fascínio”, de
José Fonseca e Costa, e “Coisa Ruim”, de Tiago Guedes e
Frederico Serra.
Apesar de nunca ninguém o ter visto nestes moldes (nem o
próprio), a verdade é que os números não enganam: estamos
perante “o produtor do terror português”. Por isso, em ano
de fecho de ciclo do Quarto Perdido, dedicá-lo ao maior
produtor português de cinema, com a exibição dos três
títulos ainda por exibir nesta secção, parece-nos, acima de
tudo, justo. Estes filmes partilham entre si aquela que será
porventura a matriz do terror made in Portugal, ou seja,
um terror proveniente do folclore, o chamado Folk Horror.
Assim, temos o homem urbano que aceita o seu destino familiar do qual tentou escapar em “O Fascínio”, onde Fonseca e
Costa concretiza as pistas de cinema de terror incluídas em
“Os Demónios de Alcácer-Quibir”, ou “A Balada da Praia dos
Cães”; a família moderna, que resolve mudar-se para uma
mansão herdada no campo e que sucumbe perante o peso
das crendices populares em “Coisa Ruim”, num argumento
do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, com realização do
irmão Tiago Guedes e de Frederico Serra; e a alegoria entre o
Bem e o Mal do mestre portuense em “O Convento”, filmado
no sugestivo Convento da Arrábida, com uma sugestiva
banda sonora de violinos estridentes e dissonantes, tudo
no estilo inconfundível de Oliveira.
Vamos então celebrar o Folk Horror português na presença
do seu produtor, que nos irá falar destas experiências, mas
também de outras, como o seu trabalho com o outro mestre
do terror, neste caso do body horror, David Cronenberg,
os seus encontros com o “rei da série B”, Roger Corman,
ou com os produtores israelitas Menahem Golan e Yoram
Globus, da mítica Canon Group Inc., a casa-mãe de Chuck
Norris ou Charles Bronson nos anos 80.