Abrimos a porta à Sala de Culto pela segunda vez, e entram mais duas "raridades" dignas desta assoalhada onde a comunidade cine-religiosa do MOTELX se congrega em adoração a esses objectos mais inusitados que só o cinema de género consegue entregar: um clássico e uma obra mais
recente, porque o culto é essencial nas nossas vidas. Este ano, a viagem faz-se desde a Lisboa pré-25 de Abril
até ao Arquipélago da Madeira.
Bem conhecido e valorizado pelos produtores italianos de
cinema popular, o realizador catalão Joan Bosch destacava-se pelo seu profissionalismo e pela capacidade de
se adaptar às exigências da Euro-Exploitation, dirigindo
com competência qualquer género cinematográfico.
O seu inesperado
"Los mil ojos del asesino" é um
thriller de espionagem com elementos de
giallo, inspirado no fenómeno
James Bond e no sucesso do cinema de artes marciais
de Hong Kong. Lisboa foi escolhida como cenário por
ser uma cidade economicamente acessível, onde os
responsáveis políticos da época viam com bons olhos
a oportunidade de projetar uma imagem positiva para o
exterior.
Filmado poucos meses antes do 25 de Abril de
1974, “
The Killer with a 1000 Eyes" foi uma das últimas
produções a beneficiar de autorizações para filmar
em locais hoje praticamente inacessíveis — privilégios
que, muito provavelmente, nem a maior superprodução
de Hollywood conseguiria obter. Acresce ainda o facto
de esta ser a primeira vez que o filme de Joan Bosch é
exibido em Portugal.
E ainda uma comédia negra que nos chega fresca do arquipélago madeirense, "
Crendices - Quando o Medo vem das Crenças" é uma produção do colectivo
4Litro, um grupo
de jovens criativos da Ponta do Pargo, no concelho da
Calheta – lugarejo homenageado como centro da absurda
acção do filme, em oposto à metrópole funchalense –,
que se tem afirmado pelo humor desconcertante praticado há quase duas décadas em formatos múltiplos.
Aqui mergulham no universo do misticismo e das crenças
populares da Madeira e de Portugal, com uma narrativa
compósita inspirada em bruxedos, rezas e maus-olhados
de todo o tipo. Um elenco que mistura actores amadores
com figuras locais encena uma gloriosa salada fílmica
de realismo mágico, sangrento e kitsch, que se foca
na superstição para comentar a condição humana.
A estreia continental está marcada para o MOTELX,
onde promete conquistar o público com a sua autenticidade crua e desavergonhadamente insular. Batemos na
madeira (com “M” pequeno) para que o espírito criativo
“maverick”, ferozmente independente, deste colectivo
nunca desapareça.
Vem prestar culto ao cinema no MOTELX!