Filmes

Regressado ao MOTELX depois da sua electrificante distopia ambiental (e erótica), “After Blue”, nomeada para Melhor Filme no Festival de Locarno em 2021, Bertrand Mandico envolve-nos numa nova viagem onírica pilotada por um olhar feminista: desta vez, com a sua interpretação da personagem literária e mitológica, “Conan, o Bárbaro”, introduzida na pop-culture por Robert E. Howard. Viajando pelo abismo, Rainer, cão do inferno e fotógrafo, relata as seis vidas de Conann, perpetuamente condenada à morte pelo seu próprio futuro, através de eras, mitos e diferentes idades. Libertando a lenda da imagética (testeronizada) do filme de 1982 realizado por John Milius e protagonizado por Schwarzenegger, “Conann” é tortura, canibalismo, luxúria, queerness, auto-traição e gore, num romantismo macabrado e episódico, que não esquece o diálogo com as barbáries do presente. Nomeado para a Queer Palm no Festival de Cannes, este tumulto de sensações avant-garde firma Mandico como autor de algumas das mais belas transgressões do cinema actual.